A avaliação auditiva é um dos pilares da fonoaudiologia, sendo essencial para diagnosticar alterações auditivas e orientar a melhor conduta para cada paciente. Para o fonoaudiólogo em formação, dominar as etapas desse processo é fundamental para garantir um diagnóstico preciso e um atendimento eficaz.
Neste artigo, vamos explorar os passos essenciais da avaliação auditiva, desde a anamnese até a interpretação dos resultados, destacando boas práticas e desafios comuns na rotina clínica.
1. Anamnese: O Primeiro Passo para um Diagnóstico Preciso
Antes de qualquer exame, a coleta de informações detalhadas sobre o paciente é indispensável. A anamnese direciona a escolha dos testes a serem aplicados e ajuda a entender o impacto da queixa auditiva na vida do indivíduo.
Principais pontos da anamnese:
- Histórico de perda auditiva na família
- Presença de infecções de ouvido recorrentes
- Exposição a ruídos intensos
- Uso de medicamentos ototóxicos
- Dificuldades na comunicação diária
Exemplo prático:
Uma paciente de 45 anos chega ao consultório relatando dificuldades para entender conversas em ambientes ruidosos. Durante a anamnese, o fonoaudiólogo descobre que ela trabalha em um escritório barulhento e tem histórico de infecções de ouvido na infância. Essas informações já indicam a necessidade de uma investigação detalhada sobre sua audição.
2. O Exame Otoscópico: Avaliação Inicial da Orelha Externa e Média
O exame otoscópico é o primeiro teste físico realizado. Ele permite ao fonoaudiólogo verificar possíveis alterações no conduto auditivo e na membrana timpânica, como a presença de cera impactada, perfuração timpânica ou sinais de infecção.
Se houver alguma anormalidade, o paciente pode ser encaminhado para um otorrinolaringologista antes da continuidade da avaliação auditiva.
Exemplo prático:
Um paciente idoso chega com queixa de perda auditiva súbita. No exame otoscópico, o fonoaudiólogo identifica um bloqueio completo do conduto auditivo externo por cera impactada. Antes de seguir com a audiometria, ele encaminha o paciente para remoção do cerume.
3. Audiometria Tonal Liminar: Determinando o Grau da Perda Auditiva
A audiometria tonal liminar é o exame mais conhecido na avaliação auditiva. Ele mede a capacidade do paciente de perceber sons em diferentes frequências e intensidades, determinando o limiar auditivo em cada ouvido.
Aspectos importantes da audiometria tonal:
- O teste é realizado em uma cabine acústica
- São testadas as vias aérea e óssea para diferenciar o tipo de perda auditiva
- O resultado é registrado no audiograma, que ajuda a classificar a perda como leve, moderada, severa ou profunda
Exemplo prático:
Uma criança de 8 anos apresenta dificuldades na escola e não responde bem a comandos verbais. A audiometria tonal revela uma perda auditiva condutiva moderada, indicando a necessidade de encaminhamento para um otorrino e possível uso de aparelho auditivo.
4. Audiometria Vocal: Avaliação da Percepção da Fala
A audiometria vocal complementa a audiometria tonal, avaliando a capacidade do paciente de entender a fala em diferentes intensidades. Esse teste é fundamental para casos em que o paciente escuta, mas tem dificuldades na discriminação dos sons da fala.
Exemplo prático:
Um paciente jovem que passou anos exposto a ruídos intensos no trabalho apresenta audição normal na audiometria tonal, mas um desempenho abaixo do esperado na audiometria vocal. Isso indica um possível distúrbio do processamento auditivo central, que exige testes adicionais.
5. Imitanciometria: Investigando a Função da Orelha Média
A imitanciometria (ou impedanciometria) avalia o funcionamento da orelha média e ajuda a identificar problemas como otites, disfunção da tuba auditiva e fixação dos ossículos. Os dois principais testes são:
- Timpanometria: Mede a mobilidade da membrana timpânica e detecta possíveis alterações na orelha média
- Reflexo acústico: Avalia o funcionamento das vias auditivas e pode indicar lesões neurológicas
Exemplo prático:
Um adulto com queixa de plenitude auricular realiza a imitanciometria e apresenta curva timpanométrica do tipo C, sugerindo disfunção da tuba auditiva. O encaminhamento para um otorrinolaringologista é necessário para avaliar a presença de uma otite serosa.
6. Emissões Otoacústicas: Teste Essencial na Triagem Auditiva Neonatal
As emissões otoacústicas (EOAs) são sons gerados pela cóclea em resposta a estímulos auditivos e são usadas para identificar perdas auditivas em recém-nascidos e crianças pequenas. Como esse exame não exige resposta ativa do paciente, ele é ideal para triagens auditivas neonatais.
Exemplo prático:
Um bebê de 2 meses não passa no teste da orelhinha realizado na maternidade. Ele é encaminhado para EOAs e o teste confirma ausência de resposta coclear. A partir desse diagnóstico precoce, a família inicia um acompanhamento fonoaudiológico imediato, aumentando as chances de desenvolvimento da linguagem.
7. BERA: Investigando Problemas Neurológicos na Audição
O BERA (Brainstem Evoked Response Audiometry), ou Potenciais Evocados Auditivos do Tronco Encefálico (PEATE), é um exame objetivo que avalia a condução do estímulo auditivo até o tronco encefálico. Ele é essencial para diagnosticar perdas auditivas neurossensoriais e problemas neurológicos associados à audição.
Exemplo prático:
Uma criança com atraso na fala e comportamento semelhante ao Transtorno do Espectro Autista realiza um BERA para descartar surdez neuropática. O exame revela uma perda auditiva retrococlear, o que altera completamente a abordagem terapêutica.
Para Concluir
A avaliação auditiva é um processo detalhado que exige conhecimento técnico e sensibilidade clínica do fonoaudiólogo. Cada exame fornece informações cruciais para compreender a audição do paciente e direcionar o tratamento adequado.
Se você está em formação, pratique a aplicação e interpretação desses testes sempre que possível, pois a experiência clínica será essencial para o seu desenvolvimento profissional. Além disso, fique atento às inovações tecnológicas na área da audiologia, pois elas estão constantemente evoluindo para oferecer diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes.
Conteúdos para aprimoramento de estudantes e profissionais na Fonoaudiologia.
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